domingo, 7 de outubro de 2018

Post de estreia (ou tristeza?) do blog


No momento que começo a escrever as primeiras palavras desta página, são exatamente 00:11 do dia 08 de outubro de 2018. Poderia ser só mais um dia. Mas é um dia que se inicia após a consumação de uma tragédia consolidada um dia antes. O dia em que o fascismo se oficializa no Brasil em que vivo.


Não que essa bola não tenha sido cantada há bastante tempo por muita gente, ou pela nossa própria história recente, em especial, relembrando em muito o ano de 1989, quando nossos avós e pais de hoje, na época jovens, recém saídos de uma ditadura civil-militar e de um péssimo governo Sarney, tiveram a chance de colocar um grande líder como Leonel Brizola na presidência, mas por vários motivos, aos quais cabe a quem está lendo tentar adivinhar, tomando como base o que aconteceu no dia 07 de outubro de 2018, acabaram escolhendo entre uma sensação que chamava a atenção por um discurso e aparência bonitas, que dava voz a seus preconceitos, e outra sensação que chamava atenção por um discurso e aparência odiadas por aqueles que sempre tiveram medo da "Bandeira Vermelha", e esta última sensação acabou perdendo, e o que se viu desde o primeiro ato de governo (Confisco das poupanças), foram atitudes tão antipopulares, afetaram em 2 anos, a vida de muitos em vinte.

Mas nesta "repetição histórica", há coisas muito mais sérias em jogo, não apenas no âmbito econômico. Pela primeira vez temos a real chance de cair num abismo que vitimizará mais de 50 milhões de brasileiros, não por perseguição étnica, racial e ideológica fruto de ditaduras, mas pela fome, miséria, violência que virão de um governo ultra neoliberal que destruirá, sem sombra de dúvidas o capenga trabalhismo que existe no nosso país.

A única coisa que consigo sentir no momento é tristeza. Tristeza. Por ter que assumir uma luta contra a perca do pouco que temos, em vez de uma luta por condições melhores (porque as coisas mais ruins que temos, poderão ser as melhores na crise social e moral que teremos de enfrentar). E por eu não ter vontade de ser taxado de culpado por isso estar acontecendo, em um futuro não tão distante, e por saber que a pouca memória que há sobre esses tempos está em completo risco, que surge a necessidade de escrever. Escrever pra não me sentir inútil e indiferente ao caos. Escrever por saber que palavras podem inspirar atitudes. Escrever porque é necessário escrever a nossa história.

Mas prometo não escrever apenas sobre tristeza daqui pra frente. Será um espaço pra compartilhar as visões de alguém que ouve, em um mundo onde a maioria quer ser ouvida e não se ouve. Mas neste momento, muitos sequer puderam ouvir a nota melancólica da dor que se aproxima. Mas infelizmente sentirão as graves vibrações dela, que reverberarão por muitos e muitos anos.

Então, pra encerrar, deixo uma citação de Italo Calvino, que no livro As Cidades Invisíveis nos lembra que:

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: procurar e reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço".

Que tenhamos a coragem necessária pra abrir espaço. E reunir forças.